quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O Brasil e o lixo eletrônico

Segundo relatório da ONU divulgado esta semana em Bali, Indonesia, o Brasil está na lista das nações emergentes que são as maiores produtoras per capita de lixo eletrônico, incluindo não apenas computadores, mas também televisores, geladeiras e celulares. Com relação às geladeiras, o Brasil está no topo da lista, ao lado de México e China. O relatório ainda pontua que Brasil, Colômbia, México, Marrocos e África do Sul são países com grande potencial para a introdução de tecnologias de ponta na reciclagem deste material, uma vez que o setor ainda é pouco explorado.

O estudo, chamado "Recycling - from E-Waste to Resources", aponta que uma coleta apropriada com foco na reciclagem é fundamental para a recuperação de materiais importantes, proteção da saúde e a construção de uma nova economia "verde". Em entrevista à rádio CBN, a professora e diretora do Centro de Computação Eletrônica da USP, Tereza Cristina Carvalho, comentou que a sociedade em geral tem esta preocupação no Brasil, mas que não há suporte federal para a questão do lixo eletrònico em nosso país. Esta é também a conclusão do relatório da ONU: há no Brasil uma falta de regulamentação que defina claramente as regras no setor e possa contribuir para um melhor tratamento dos resíduos.

A professora Teresa Cristina ainda chamou a atenção que, desde 2002, a comunidade européia como um todo se movimenta no sentido de regular a questão do lixo eletrônico, e está um passo à frente em relação à outros países. Podemos perceber isto na aplicação cada vez maior de diretivas como o RoHS e WEEE, que cuidam tanto da entrada (não utilização de substâncias nocivas) quanto da saída (responsabilidade na disposição dos resíduos eletrônicos). Neste ponto, lembrou a professora, o Brasil até já possui algo com relação à produção de equipamentos "verdes" (sem chumbo, mercúrio e cádmio, principalmente na fabricação de computadores), mas está muito atrasado no que diz respeito à projetos para a logística reversa, onde os fabricantes são co-responsáveis na coleta do produto a ser descartado. Isto é um problema grave no Brasil.

Ela observou que há um movimento em nível federal, pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), que visa criar um grupo de estudo para regulamentação da reciclagem, baseando-se na Lei Federal de resíduos sólidos. Sobre projetos interessantes e já estabelecidos em nosso país, ela citou o programa de reciclagem de pilhas e baterias do Banco Real e a reciclagem de micros usados realizada pela USP, projeto inovador em nível mundial. O e-mail para informações sobre o programa da USP é cedir.cce@usp.br.

No Brasil existem iniciativas voluntárias de alguns fabricantes como HP, Xerox e Sun Microsystems na coleta de seus produtos para recliclagem, mas, sem uma regulamentação clara, não há como dar uma maior abrangência à estas atividades em nosso país. É muito importante que nós, gestores de TI, possamos colaborar neste processo voluntário, envolvendo nossas empresas - elementos fundamentais neste processo - e criando oportunidades para o negócio da reciclagem. No final das contas, é ou não é uma questão de Governança ?

Clique aqui para ter acesso ao relatório da ONU.

O áudio da entrevista com a professora Teresa Cristina, da USP, está abaixo:

domingo, 7 de fevereiro de 2010

James Lovelock e Copenhage

James Lovelock é um pesquisador britânico que, na década de 1970, levantou a hipótese de Gaia, que entende o Planeta Terra como um único organismo vivo. Sendo assim, como qualquer coisa viva, pode gozar de boa saúde ou adoecer. As reações do planeta às ações humanas podem ser entendidas como uma resposta auto-reguladora desse imenso organismo vivo, Gaia, que sente e reage organicamente. Lovelock e outros pesquisadores que apoiam a idéia atualmente a consideram uma teoria científica, não apenas uma hipótese, uma vez que, segundo eles próprios, ela já teria passado pelos testes de previsão. De lá para cá, Lovelock publicou vários livros sobre o assunto, e seu mais recente lançamento é "Gaia: alerta final" (Ed. Intrínseca).

Em janeiro passado, Lovelock concedeu uma entrevista ao jornal O Globo, onde falou destas questões, mas chamou-me a atenção sua resposta ao ser indagado sobre o "fracasso" de Copenhage. "O senhor acha que teremos outra oportunidade como essa? Outro momento político tão simbólico, com 110 chefes de Estado reunidos?", perguntou a repórter. Lovelock respondeu: "Mesmo que tenhamos, será inútil. Nada foi feito depois da Rio-92, nem depois de Kioto, exceto mais reuniões. A ÚNICA FORMA POSSÍVEL É ENXERGARMOS VANTAGENS FINANCEIRAS NO COMBATE AO AQUECIMENTO. É dessa forma que se faz. É o que o Brasil fez com o álcool".

Coloquei em maiúsculas a frase mais contundente, na minha opinião. É o que venho observando há tempos neste blog. Os riscos relacionados à sustentabilidade são ameaças, mas também OPORTUNIDADES. É cada vez mais óbvio que, enquanto os ganhos no combate ao aquecimento global não forem potencializados financeiramente de maneira clara, as adesões voluntárias serão poucas. Copenhage não gerou os frutos que desejávamos por interesses outros que não eram os ambientais. Poucas nações estão estruturadas para viver em harmonia com as iniciativas sustentáveis. A Europa caminha num passo à frente, mas os EUA ainda continua um país reticente, e a China não se define. Ali, num encontro essencialmente político, a "conta não fechou". E para esta conta fechar, os bilhões de dólares investidos nas medidas sustentáveis teriam que, de alguma forma, retornar aos bolsos dos investidores. Não houve regulação definida, não houve acordo.

É assim com os países, é assim com as empresas. Movidas mais pela regulação do que pela adesão voluntária, as iniciativas sustentáveis podem ser uma decisão estratégica em empresas que tenham uma estrutura de Governança bem pautada, onde é possível vislumbrar as oportunidades deste mercado. TIC Verde é apenas um dos aspectos. Pode ser uma ótima oportunidade com desdobramentos positivos para a empresa rever práticas e processos. E, por quê não, obter ganhos financeiros.