sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A Informação, segundo Castells

Aproveitando o gancho da postagem anterior, gostaria de comentar rapidamente sobre Manuel Castells e seu livro "A sociedade em rede". Leitura obrigatória para um entendimento histórico da revolução da tecnologia da informação, o trabalho literário do espanhol foi publicado em três volumes, com o título de "A Era da informação: Economia, sociedade e cultura", onde "A sociedade em rede" é o primeiro deles. Para Castells, a sociedade contemporânea é globalizada, centrada no uso e aplicação de informação e conhecimento, cuja base material está sendo alterada aceleradamente por uma revolução tecnológica concentrada na tecnologia da informação, tudo sujeito a profundas mudanças nas relações sociais, nos sistemas políticos e nos sistemas de valores. É um livro de uma consistência enorme, que analisa as várias revoluções que a informação permitiu, permite e ainda permitirá. Na gestão desta informação está um dos segredos do sucesso.

O desenvolvimento sustentável suscita um debate acerca de quais devem ser, de fato, os valores corporativos no mundo atual. O trabalho de Castells nos provoca exatamente este tipo de pensamento com relação aos nossos processos em TIC. Citando uma das passagens de seu livro, “ao transformarem os processos de processamento da informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento de conexões infinitas entre diferentes domínios, assim como entre os elementos e agentes de tais atividades".

Gestão da Informação. Mudança de processos. Governança. Inovação. Eis alguns dos caminhos para a sustentabilidade em TIC.

Um pouco de história ...

O ano é 1946. Ele marca a chegada do primeiro computador programável, o ENIAC - Electrical
Numerical Integrator and Calculator (foto ao lado). Criado na Universidade da Pensilvânia e com patrocínio do exército americano, o computador pesava cerca de 30 toneladas, tinha 70 mil resistores e 18 mil válvulas a vácuo. O tamanho ? Ocupava todo um ginásio esportivo, cerca de 180 m2.

Num momento em que falamos de eficiência energética e sua aplicação na TIC, o curioso é saber que, quando o ENIAC foi ligado, seu consumo de energia tão alto quando que as luzes da Filadélfia piscaram. Isto está relatado no excelente livro de Manuel Castells, de 1999, intitulado "A sociedade em Rede", da editora Paz e Terra (falo mais sobre este livro em outra postagem). A primeira versão comercial desta máquina surgiu em 1951, após o invenção do transistor em 1947, com o nome de “UNIVAC 1”, e foi utilizada no processamento dos dados do censo norte-americano de 1950. Mais detalhes da historia do ENIAC pode ser lida aqui.

Hoje em dia são muitas as opções para tratar economia de energia em TIC: Thin clients, Blades, Data Centers verdes, monitores de LCD, chips eco-eficientes, virtualização e consolidação de servidores, conformidade à normas como Energy Star, entre outras. Aliás, uma matéria da IDG NEWS publicada pela COMPUTERWORLD (ler aqui) fala exatamente que estas são pequenas ações para quem quer começar, ainda que timidamente, um processo de TI Verde.

Mas sabemos que isso é só o começo. Na mudança dos processos é que está o "core" das ações.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Reflexões sobre a crise #2: "Green IT" entre as previsões do IDC para 2009

Entre as 10 previsões do IDC para 2009 na área de tecnologia, a TI Verde está bem cotada. Segundo o instituto, a TI Verde terá um bom ano, tratada como "corte de custos". Com a tendência de um aperto finaceiro, investimentos com retorno a longo prazo não deverão ser prioridade, segundo o IDC. Tecnologias como a virtualização, Servidores e Storages eficientes (em energia e espaço) e cloud computing continuam com fôlego para 2009.

Muitos dos investimentos em TIC tendem, segundo o IDC, à eficiência energética. Repercute favoravelmente as declarações de Barack Obama no sentido de priorizar investimentos neste setor. E os mercados emergentes - como a América Latina - deverão ser o epicentro da inovação verde. O relatório do IDC pode ser lido aqui.

Bom saber que o IDC vê em mercados emergentes um foco destas inovações, o que é uma boa oportunidade para o Brasil. Mas não gostei muito da previsão de que a TI Verde será tratada como "corte de custos". Acho que é uma visão muito reducionista deste processo. É claro que ela é "também" isso, e talvez seja até seu grande motivador inicial, mas outras dimensões devem ser consideradas, aliás, é o que sempre discutimos aqui. De qualquer forma, é ótimo ver a TI Verde na agenda das tendências 2009.

Reflexões sobre a crise #1 ...

Para quem quiser se aprofundar mais no tema de créditos de carbono, o endereço www.carbonobrasil.com é uma ótima pedida, com notícias atualizadas sobre o mercado. Duas notícias recentes que me chamaram a atenção fazem referência ao comportamento do mercado de carbono diante da crise econômica mundial.

As negociações no mercado de carbono mundial chegaram a US$118 bilhões em 2008, crescimento de 84% em relação ao ano anterior. Foram transacionadas quatro bilhões de toneladas de permissões de emissão de gases do efeito estufa, o que representa um crescimento de 42% com relação a 2007. Apesar das incertezas econômicas , há uma previsão de que, em 2009, os negócios cheguem a US$ 150 bilhões. Clique aqui para ler a notícia completa.

Este otimismo contrasta com o fato de que as ações do setor de energias limpas cairam 61% em 2008. As mais afetadas foram empresas de energia solar e de biocombustíveis. O barateamento dos combustíveis fósseis e a fuga de investimentos em virtude da crise econômica foram os maiores responsáveis. Porém, o "efeito Obama" trouxe um sopro de vida ao recuperar algumas ações desde o final do ano passado, uma vez que o Presidente eleito nos Estados Unidos prometeu novos investimentos na área ambiental, principalmente com relação à energia limpa. A notícia completa está aqui.

O que podemos concluir é que há uma preocupação generalizada de que a crise afete diretamente os investimentos nas ações ambientalmente responsáveis. Se a empresa tiver que cortar custos, uma das areas quer poderá sofrer é exatamente esta.

Porém, se tais ações são pensadas de forma estratégica dentro da organização, visando oportunidades de negócios, melhor imagem junto a sociedade e valorização da marca da empresa, tais cortes neste setor não são justificáveis. Acredito que, na garupa da crise, teremos um "quem é quem" das ações ambientalmente responsáveis, pois os que pensam estrategicamente, certamente, continuarão com seus projetos neste sentido. Por isto, se alguém acha que não é hora de falar em TI Verde na sua empresa está enganado. A crise não pode ser desculpa para engavetar projetos que sejam justificáveis. Cabe ao gestor de TIC argumentar que tais investimentos garantem retorno e estão alinhados ao programa sustentável da organização. Difícil ? Pode ser, mas não impossível.

Para deixar seu website "Verde" !

O www.co2stats.com promete colaborar para tornar sua página na internet ambientalmente responsável. Entre os serviços oferecidos estão o monitoramento do uso de energia do seu website, dicas de como tornar sua página mais eco-eficiente (além de carregamento mais rápido) e a quantidade de energia renovável que deve ser adquirida para fazer a neutralização das pegadas de carbono (energia solar e eólica, por exemplo) .

Vale a pena dar uma verificada, pois é interessante como o mercado pouco a pouco começa a criar as oportunidades de negócio ambientalmente sustentáveis.

Pesquisar no Google ou ferver a água ?

Uma simples busca no Google produz cerca de 7g de dióxido de carbono(CO2). Esta foi a afirmação do americano Alex Wissner-Groos, físico da Universidade de Harvard. Isto significa que apenas duas buscas no site é equivalente a mesma quantidade de CO2 gasta para se ferver uma chaleira de água num dispositivo elétrico. Leia aqui a reportagem na página da BBC.

O cálculo envolve emissões tanto no centro de dados do Google quanto no computador que faz a consulta, baseando-se na velocidade de processamento da informação no Data Center. "Nosso trabalho não tem nada a ver especificamente com o Google. Nosso foco foi a Web como um todo", diz Alex.

Já o Google contestou estes número em seu blog (veja a postagem aqui). A empresa alegou que uma busca leva menos de 0.2 segundos e que utiliza ainda menos tempo nos servidores. Dessa forma, seriam consumidos 0,0003 kWh por busca, equivalentes a 0,2g de CO2. O Google ainda citou várias de suas iniciativas com relação à eficiência energética de seus centros de dados e suas parcerias com instituições ambientalmente responsáveis.

Quem está certo ou errado não importa. Numa época em que o Gartner estima que 2 % das emissões mundiais de CO2 vem da área de TIC, o que vale observar é que, de fato, precisamos ter um olhar cada vez mais sustentável, desde a concepção dos nossos projetos até a reavaliação de nossos processos atuais. Notícias como esta mostram que "todo mundo está de olho" em nossas atividades, e o negócio agora não é apenas realizar de forma certa nossos projetos, mas, cada vez mais, realizar o projeto certo.

Ainda tem dúvidas de que a sociedade já começou a cobrar um posicionamento mais sustentável das áreas de TIC ?